quarta-feira, 28 de julho de 2010


Pra não dizer que não falei das flores, das rosas e dos espinhos (Desafio Debatepronto)

Originalmente, a parte inicial do título deste post é da música do Geraldo Vandré, com a qual inicio esta singela homenagem à mulher…

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

Geraldo Vandré
Composição: Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguaisBraços dados ou não
Nas escolas, nas ruasCampos, construções
Caminhando e cantandoE seguindo a canção…
Vem, vamos emboraQue esperar não é saber
Quem sabe faz a horaNão espera acontecer…(2x)
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da florSeu mais forte refrão
E acreditam nas floresVencendo o canhão…
Vem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer…(2x)
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinamUma antiga lição:
De morrer pela pátriaE viver sem razão…
Vem, vamos embora
Que esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer…(2x)
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguaisBraços dados ou não…
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a cançãoA
rendendo e ensinando
ma nova lição…
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a horaNão espera acontecer…(4x)
———————————————
A música, como todos sabem, ou acabaram de perceber, não fala da mulher. E como toda música, em respeito ao artista, pode ser interpretada das mais diversas formas. Deixemos fluir seu primeiro e mais conhecido (talvez único para alguns, por que não?) sentido. O da luta. Calada e sofrida, ou externalizada, e ao mesmo tempo reprimida.
Lutas e dores fazem parte da formação histórica da sociedade ocidental (e não me interessa falar da oriental, agora). Pelo menos, da maior parte da sociedade que conhecemos, no modelo que nos é familiar, e dentro daquilo que aceitamos como verdade. Aliás, a maioria das verdades de nossa sociedade foi instituída, e não construída coletivamente.
E é daí que vem parte de nossos espinhos. Exploramos tanto a nossa própria raça, que agora chegamos a um limite entre o intolerável e o inaceitável. Exato, entre os dois. Passamos de todos os limites da convivência social em todos os centros urbanos, e caminhamos para isso nas áreas mais remotas. Não estou dizendo que seja exclusividade ocidental (mas, também, parece evidente que nos baseamos mais no sofrimento e na ambição que o pessoal do outro lado, basta ver em que ou quais filosofias temos procurado equilíbrio).
Estes espinhos causaram dor, pois tentamos pegar as rosas que os carregavam. O preço do progresso a qualquer preço está sendo pago. Neste mar de coisas ruins, a mulher passou – e talvez ainda passe – pela pior delas. Sou admirador confesso das mulheres – ainda bem! Tenho revelado minha paixão, em especial, àquelas que mudaram minha vida radicalmente: minha avó, minha mãe e minha esposa. Fisicamente, só posso estar com minha esposa – e aprender com ela todos os dias. Espiritualmente, e especialmente, em forma de conhecimento, tive a honra de estar com as três. Com histórias diferentes, todas sofreram, de alguma forma, por estarem em uma sociedade essencialmente machista, violenta e hipócrita. São as minhas rosas, sim, pois mesmo com os espinhos que carregaram, simbolizam aquilo a que chamo, até hoje, e espero amanhã, beleza.
Sendo estas minhas rosas, só me resta falar das flores. As mulheres, que não conheço, ou que até conheci, mas que fazem parte deste imenso e lindo jardim. Mas, se é para falar destas flores, porque a música?
Esta é mesmo a parte triste. O jardim é realmente belo, mas me dói ainda ver essa violência e expressão de machismo, sendo transformada sob outros rótulos. Certo, elas tem uma certa e pequeníssima culpa: o feminismo (sei que vão pular no meu pescoço com facas e foices, mas calma…). Algumas destas flores, resolveram utilizar os mesmos argumentos em busca de algo, que tinham todo o direito, e que, façamos como todos, rotulamos facilmente como liberdade ou igualdade. Quando se busca igualdade se pressupõe naturalmente a diferença, e por princípio, partimos para o certo a partir do errado. Ponto. Mas não é para isso que serve o parágrafo, e sim, para dizer que as diferenças só aumentaram. O caminho foi, para muitas, trabalhar, “conquistar posições e poder”, assim como os homens. Estas, para mim, falharam. Somente multiplicaram os valores que falei. Estão reforçando a competição, a violência, a luta por espaço.
Volto então às rosas, que se libertaram realmente, e se encontraram. No trabalho, simplesmente ficando com a família, ou dedicando-se a uma causa – ou luta – que não é sua, mas de todos. Volto para aquelas, que carregam seus espinhos e descobrem que mesmo assim são belas. Lutadoras, mas não selvagens. Fortes, mas não homens. Mulheres que são, enfim, mulheres. E que são muitas, e que estão aí. Não tem vergonha de chorar – e de rir – em público. Não tem medo da sua própria sensibilidade. Não se mede por força, aliás, por fragilidades, por serem simplesmente: mulheres.
E os espinhos, de que falei, somente compõem o cenário que não precisa de passado, nem de futuro. Mas de presente. Se aprendermos a conviver entre rosas e espinhos, poderemos ser flores, pássaros, gente e, até mesmo, ninguém. Não precisamos “ter” para “ser”. Não precisamos nem “ser”. Precisamos, apenas, assumir a vida que levamos, e sermos responsáveis pelo que fazemos. É um começo, talvez.
Então, mulheres (mesmo as que não gostaram do que está aqui), sintam-se no presente. Tenham sim, um dia, uma hora, um momento seu. E sintam-se tão especiais quanto realmente são, porque vocês podem ser flores, rosas ou espinhos, mas serão sempre, lindas, belas e completas, mulheres. E não precisamos seguir a canção, sermos todos iguais, caminhar juntos ou não… mas, realmente, há uma razão na música do Geraldo Vandré: eu acredito nas flores vencendo o canhão!
Daniel Pinheiro

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