quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Contos de swing feminino...
Nem o sexo escapa do famoso jeitinho brasileiro. O swing – troca de casais – se empolgou com o clima latino, ganhando uma versão nacional. E o Bolsa de Mulher adverte: o swing no Brasil é machista e privilegia o homem.
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Ele insiste há meses, e finalmente você considerou a proposta do maridão para visitar um clube de swing. Durante toda a semana, vocês conversaram sobre o assunto e combinaram as regras do jogo. Tudo para evitar confusão e tentar tirar o máximo de prazer da situação. Chegado o grande dia, você está animada com a idéia de dar uma variada, se atracar com um desconhecido depois de passar anos dormindo com o mesmo homem. Até que a idéia dele não foi tão ruim assim... Mas bastam alguns passos na pista para você olhar ao redor e se perguntar: "Que lugar é esse?" Rodeada por mulheres, muitas com a indisfarçável pinta da profissão mais antiga do mundo, você broxa antes mesmo da festa começar. Mesmo para quem achava estar preparada para o que desse e viesse.Calma! Antes que você culpe seu parceiro pelo programa furado, saiba que ele deve ter ficado tão ou mais surpreso que você. O swing nada mais é que a troca consentida entre os parceiros de dois ou mais casais. Mas como tudo que é absorvido pela nossa cultura acaba, mais cedo ou mais tarde, ganhando ares da terrinha, a modalidade não escapou da sina. Grande parte das casas voltadas para essa prática acabou cedendo à brasilidade, e o que era para ser um momento de diversão e liberdade entre pessoas comprometidas, acabou tornando-se uma farra do boi - no caso, seu parceiro. Numa sociedade machista, a prática antes sensual e erótica, capaz de apimentar a vida sexual de casais felizes e bem-resolvidos, hoje não passa de, com perdão da má palavra, “putaria” para eles. Ou seja, os clubes se assemelham cada vez mais a casas de massagem.Se você esperava realizar as suas mais tórridas fantasias com louros, morenos, asiáticos e negros, a decepção será certa. O sexo frágil estará presente em peso, fazendo do lugar um verdadeiro harém para os felizardos presentes que sonham em ver suas mulheres trocando carícias com outras. Thais e Raul praticam a troca de casais há oito anos e, há cinco, são proprietários da Swing Club BH, uma das casas mais respeitadas no meio. A casa, localizada em Belo Horizonte, abre apenas duas vezes na semana e reserva os sábados exclusivamente para casais. Já as sextas, o bicho come solto. “Revezamos a noite do bi feminino com a noite do ménage”, explica o empresário. O problema é que, enquanto na noite do bi feminino é permitida a entrada de casais e mulheres solteiras, a noite do ménage também libera quinze míseros machos – que ainda são desencorajados pela custosa entrada de R$ 95, um casal divide R$ 65. Em quaisquer situações, elas serão sempre maioria, revelando a preferência nacional.O pecado originalNa Europa, berço de modalidades como o voyerismo e o ménage à trois, o swing ainda é preservado na forma como foi concebido. Os clubes europeus são rígidos quanto à entrada dos clientes, respeitando as regras do jogo. Para entrar, só em dupla, sendo que alguns locais chegam a exigir certidão de casamento ou foto que comprove a união. Já aqui, prepare-se para a falta – quase total – de controle. São raras as casas que mantêm a proposta original. Portanto, se você não curte a idéia de dividir seu par com uma profissional, é importante sondar algumas informações sobre o local escolhido. Procure ter certeza de que a festa é exclusiva para casais, pois mesmo as que vendem a idéia do swing, abrem exceções. “Só entram casais, ou mulheres acompanhando casais”, diz ao telefone um atendente do Henri Club, casa carioca. E aí, o que era para ser um quarteto fantástico, dá lugar a um trio maravilha – nem tão maravilhoso assim para nós.Preferência nacionalNão há pesquisas que revelem o quanto os brasileiros adorariam ver seus pares ao lado de outra representante do sexo feminino, mas eles não têm pudores em demonstrar o entusiasmo sobre o assunto. “A maioria dos homens, talvez uns 90% deles, acha que duas é melhor do que uma. Mas quando o assunto é colocar outro homem no meio, certamente eles não aceitariam”, acredita o designer Fábio Tadeu. Se o ménage feminino é preferência nacional, e muitas mulheres cedem aos apelos dos parceiros, quando o pedido parte do outro lado, ele entra por um ouvido e sai pelo outro. A paulista Mônica, 35 anos, que pratica swing com seu marido, confirma a teoria. “A pedido dele, transo com outras mulheres, mas nunca consegui vê-lo com outro homem, o que é uma fantasia minha. Ele diz não estar pronto para isso, e que prefere até transar com um travesti”, lamenta.Em meio a tanto preconceito, procuramos uma especialista em sexo para entender o que se passa na cabeça masculina. “A bissexualidade feminina é muito mais aceita do que a masculina. O homem ainda prefere ter mais uma mulher a dividir a sua com outro. Isso só comprova o pensamento do homem macho, que se gaba por dar conta de duas. É uma verdadeira massagem no ego deles e uma característica de nossa cultura machista”, explica a terapeuta sexual Glene Faria. Além disso, dividir a parceira com outro os obriga a encarar sua própria bissexualidade. “O homem que se relaciona com outro pode acabar sofrendo com a dúvida do homossexualismo. Para eles, isso é complicadíssimo de lidar. Mas não passa de medo de ser considerado homossexual”, diferencia.Para evitar confusões na hora H, Dra. Glene aconselha: “Qualquer expressão sexual pode ser saudável, desde que os envolvidos saibam o que querem. Se a mulher se relaciona com outra apenas pensando na satisfação do parceiro, está se agredindo, inclusive podendo levar à ruptura do relacionamento”. Este alerta pode evitar muitos sustos e inconvenientes. Portanto, aos novatos que possam estar animados com a idéia, nada melhor do que descobrir e respeitar seus próprios desejos. Depois disso, uma tarefa também nada fácil: encontrar uma casa de swing que o pratique de verdade.

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